O JARDINEIRO DOS CORAÇÕES
Por Igor Canôas da Silva *
“Eu vi o Senhor”, é a frase que Maria Madalena exclama com júbilo, após sua experiência com Jesus Ressuscitado. Tendo achado que tinham roubado o corpo de Jesus, pois já não estava mais lá, Maria se entristece e pergunta ao “jardineiro” onde o puseram para que pudesse buscá-lo. Entretanto, é este mesmo Jardineiro que agora está diante de nós e chama-nos pelo nome, propondo-nos um caminho de vida, como fez com Madalena. Este chamado profundo e pessoal simboliza que o Senhor nos conhece, afinal, Ele não chamou apenas aquela que o buscava explicitamente, mas também aqueles que o buscam de forma inconsciente, para assim, constituir os seus vocacionados. É o que muitas vezes acontece conosco, quando por vezes buscamos o Senhor onde Ele não está, e nos defrontamos com dificuldades, fragilidades e nossa própria interioridade, que insiste em não procurar a Deus usando-se de desculpas fúteis. Quando deixamos que nosso “eu” seja nosso inimigo, fechamos as portas de nossa alma e não deixamos que o Espírito da Vida habite em nosso peito. O primeiro passo para nos encontrar com Aquele que cuida do jardim de nosso coração é superar estas desculpas, enfrentar quem nós somos, deixando de lado nossas vontades e desejos, como Ele próprio fez, ao pedir que se não fosse possível afastar o cálice de seu sofrimento, que Seu Pai então realizasse Sua vontade. Dessa forma, aprenderemos que o que vale para nossa vida é a vontade de Deus, e não a nossa, e este é o ponto de partida. Somente aquele que aceita isso profundamente é capaz de compreender o plano vocacional de Deus para cada um. Este plano divino perpassa pela cruz expressando duas realidades: a dor e a alegria. Primeiro, porque aceitar a vontade de Deus é saber que será um caminho árduo, que haverá dificuldades e não será isento de sofrimento, mas é superando a dor que se poderá experimentar a alegria. Deus opera em cada um de nós a cicatrização dessa dor com a alegria do chamado. E isso nós podemos ver na pessoa de Jesus. Sabia que seu caminho era de calvário, mas que a chegada era a ressurreição. Este é o caminho de cada vocacionado de Deus. Com a dor de dizer “sim”, há a realização verdadeira de poder dizer: “Eu vi o Senhor”. Afirmação esta que é feita com alegria pela discípula, que depois da agonia de não encontrar Jesus, agora se realiza, pois Ele a chamou para anunciar seu Nome.
* Igor Canôas da Silva
Seminarista do 1º ano de Teologia, faz atividade pastoral na Paróquia São João Batista.
Publicado em: 04 ago. 2022